O fruto proibido em pleno século XXI

Esta foto é de um vinho de frutas da vinícola de Steve Venables e Kim Brind'Amour e a única relação que tem com texto abaixo é ilustrativa devido ao seu nome e não ao seu conteúdo.

Ao lermos no livro de Gênesis a história da criação do primeiro casal, nos deparamos com o seguinte texto: “E o Senhor Deus ordenou ao homem: “Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá” (Gênesis 2:16-17 – NVI).  Hoje dizemos que o primeiro casal comeu o fruto proibido. Lá, nos primórdios da civilização, este fruto era denominado fruto “da árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gênesis 2: 17 – NVI). Adão e Eva tinham tudo em plenitude, inclusive um pomar maravilhoso. Por que comeram do único fruto que não deveriam comer? Esta é uma das grandes perguntas que há séculos povoam as mentes dos filósofos, dos romancistas e do homem comum. No entanto, apesar desta ser uma grande questão e necessitar de uma resposta teológica razoável, não é ela a pergunta que mais perturba as pessoas em sua dificuldade de aceitar a fé cristã. O que mais intriga as pessoas é a seguinte questão: Por que Deus colocou no Jardim do Éden a árvore do conhecimento do bem e do mal mesmo sabendo que seus frutos poderiam causar a morte de Adão e Eva?

Podemos dizer que, de certa forma, as duas questões estão relacionadas entre si. Uma compreensão melhor sobre o assunto pode ajudar aqueles que têm alguma dificuldade em aceitar o relato bíblico. Então vamos lá. Estas são as duas questões:
1. Porque Deus apesar de saber do potencial destrutivo da árvore do conhecimento do bem e do mal a deixou disponível ao primeiro casal?
2. Porque o primeiro casal, apesar de ter tudo o que precisava, não deu ouvidos à orientação de Deus e comeu do fruto da ciência do bem e do mal?

Muitos ateus e críticos da fé cristã entendem que Deus estava descrevendo o castigo com o qual iria punir o homem se este comesse da árvore da ciência do bem e do mal. Na verdade Deus estava dando ciência ao homem de sua liberdade de escolha e das consequências da escolha errada. Deus disse: “Coma livremente de qualquer árvore do jardim…” (Gênesis 2:16-b – NVI). Em seguida Deus falou da única exceção dentre as árvores do jardim e claramente advertiu o que iria acontecer se Adão dela comesse: “mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá” (Gênesis 2:17 – NVI). Deus estava dando a Adão o conhecimento de sua condição enquanto criatura espiritual. Até onde podemos depreender da Bíblia, todos os seres espirituais criados por Deus têm o livre-arbítrio. Ninguém é obrigado a viver com Deus, mas  aqueles que estão com Deus desejam ardentemente permanecer com Deus. Aqueles que ainda não estão, mas estarão com Deus no futuro, exercerão sua escolha rejeitando o mal e se posicionando favoravelmente a Deus. Isto é simples assim! Mesmo que não houvesse uma “árvore do conhecimento do bem e do mal” no Jardim do Éden, o livre arbítrio estaria lá e seria exercido mais cedo ou mais tarde pelo primeiro casal! Não digo a sua queda, mas a sua escolha em pecar ou rejeitar o pecado, sendo que se pecasse cairia da mesma forma, com ou sem o “fruto proibido”. Então, podemos concluir, a árvore do conhecimento do bem e do mal no Jardim do Éden é uma prova da clareza e da honestidade de Deus para com o primeiro casal, prova do alto padrão moral de Deus.

Lemos no livro de Ezequiel: Você foi ungido como um querubim guardião, pois para isso eu o determinei. Você estava no monte santo de Deus e caminhava entre as pedras fulgurantes. Você era inculpável em seus caminhos desde o dia em que foi criado até que se achou maldade em você. Por meio do seu amplo comércio, você encheu-se de violência e pecou. Por isso eu o lancei em desgraça para longe do monte de Deus, e eu o expulsei, ó querubim guardião, do meio das pedras fulgurantes. Seu coração tornou-se orgulhoso por causa da sua beleza, e você corrompeu a sua sabedoria por causa do seu esplendor. Por isso eu o atirei à terra; fiz de você um espetáculo para os reis.” (Ezequiel 28:14-17 – NVI). Este texto, que a princípio é endereçado ao rei de Tiro, é segundo alguns teólogos, uma clara indicação da queda de Lúcifer. Sem entrar no mérito da questão, o texto fala de alguém que era inculpável e que, devido à maldade e ao orgulho de seu coração, caiu. Acho importante frisar alguns termos do texto acima que indicam a voluntariedade da ação do transgressor: “você encheu-se de violência e pecou”, “seu coração tornou-se orgulhoso”, “você corrompeu a sua sabedoria”.

Se analisarmos o diálogo entre Eva e a Serpente em Gênesis 3: 1-7, veremos que antes que o fruto proibido fosse “digerido” por Eva, esta deve ter passado por um processo semelhante ao descrito no citado texto de Ezequiel: Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: ‘Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim?’
Respondeu a mulher à serpente: ‘Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’. Disse a serpente à mulher: ‘Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal’. Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também. Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobrir-se.
 (Gênesis 3:1-7 – NVI).

Houve uma sugestão por parte da Serpente“Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3:5 – NVI). Em seguida vemos a inclinação maldosa do coração de Eva: “Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também.” (Gênesis 3:6 – NVI)

Vamos dividir esta frase em partes para melhor entendê-la:

  1. A mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar,
  2. Era atraente aos olhos,
  3. Desejável para dela se obter discernimento,

Eva, antes de comer do fruto, arrazoou muito bem em seu coração. Não foi uma decisão inocente. Devemos levar em conta que o QI do primeiro casal era elevadíssimo. Não se pode dizer, com honestidade, que a decisão de Eva foi uma decisão ingênua. Ela foi sim uma decisão maldosa. A queda de Eva foi gradativa. Ela deu alguns passos firmes e decididos em direção ao seu infeliz destino. Tendo dado ouvidos à Serpente, em seu coração nasceu a dúvida com relação a Deus, em seguida um forte desejo de conhecimento. Ao final Eva quis ser igual a Deus. Achou-se esperta demais. Podemos enumerar alguns, entre muitos, dos pensamentos (ou sentimentos) malignos, provavelmente, envolvidos no ato de comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal:

  1. Desconfiança – Achou que Deus estava mentindo para o casal;
  2. Ingratidão – Por um momento esqueceu-se de todos os benefícios recebidos de Deus;
  3. Desamor – A fim de conseguir seu intento, não pensou de forma amorosa em Deus;
  4. Cobiça – Desejou conseguir o que não tinha (o conhecimento que Deus tinha);
  5. Soberba – Achou-se esperta, superior a Deus, seu Criador.

O comer o fruto foi somente a concretização de todos os pensamentos já concebidos e estruturados na mente de Eva. Comer o fruto foi “pagar prá ver”. Foi insistir em rejeitar a Deus e andar por seus próprios caminhos. Comer o fruto daquela árvore foi trazer à vida a própria morte.

Na primeira carta de João lemos: “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo.” (1 João 2:16)

Este texto nos faz entender que o “fruto proibido” ainda está entre nós. Podemos afirmar que este “fruto” é diariamente oferecido aos habitantes deste planeta. Não foi desta mesma forma que o primeiro casal se afastou de Deus?

  1. Concupiscência da carne (agradável ao paladar)
  2. Concupiscência dos olhos (atraente aos olhos)
  3. Soberba da vida (desejável para dela se obter discernimento)

Tiago reforça este ponto de vista: Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: ‘Estou sendo tentado por Deus’, pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte. (Tiago 1:13-15 – NVI)

Não há injustiça em Deus. Você e eu devemos estar cientes que temos o direito de exercer nossa livre escolha. Podemos livre e conscientemente rejeitar o mal e escolher a Deus. Todavia se, em nossa avaliação, a escolha pender para o lado contrário, sabemos bem quais serão as consequências. Se alguém tem dúvidas lembre-se de Adão e Eva. Toda a miséria e destruição existentes no mundo em que vivemos é resultante da escolha errada daquele primeiro casal.

Não se trata de ser castigado por Deus. Trata-se do que somos e para o que fomos criados. Deus nos ama e sempre quer o nosso bem. Não se trata de um teste de Deus, trata-se do nosso relacionamento com Deus, nosso Criador e nosso Pai. Nossa vida só pode alcançar a amplitude da verdadeira paz se estiver em comunhão com Deus. Escolher não dar ouvidos a Deus é escolher destruir nossa própria alma, pois foi criada por Deus e para Deus. Não dar ouvidos a Deus é comer o fruto proibido. É ficar separado de Deus por toda a eternidade. Isso se chama morte!

Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16 – NVI)


Daril Simões

3 thoughts on “O fruto proibido em pleno século XXI

  1. Muito boa sua interpretação desta passagem bíblica, Daril.
    Bem elaborado, bem demarcados os tópicos e o texto de fácil compreensão!
    E de fato é uma das passagens mais controversas!!
    Abraço

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